Relações de simpatia e de antipatia entre os
Espíritos. Metades eternas
291. Além da simpatia geral, oriunda da semelhança que
entre eles exista, votam-se os Espíritos recíprocas afeições
particulares?
“Do mesmo modo que os homens, sendo, porém,
que mais forte é o laço que prende os Espíritos uns
aos outros, quando carentes de corpo material,
porque então esse laço não se acha exposto às
vicissitudes das paixões.”
292. Alimentam ódio entre si os Espíritos?
“Só entre os Espíritos impuros há ódio e são eles
que insuflam nos homens as
inimizades e as dissensões.”
293. Conservarão ressentimento um do outro, no mundo
dos Espíritos, dois seres que foram inimigos na Terra?
“Não; compreenderão que era estúpido o ódio que
se votavam e pueril o motivo que o inspirava.
Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma
espécie de animosidade, enquanto se não purificam.
Se foi unicamente um interesse material o que os
inimizou, nisso não pensarão mais, por pouco
desmaterializados que estejam. Não havendo entre
eles antipatia e tendo deixado de existir a causa de
suas desavenças, aproximam-se uns dos outros com
prazer.”
Sucede como entre dois colegiais que, chegando à
idade da ponderação reconhecem a puerilidade de
suas dissensões infantis e deixam de se malquerer.
294. A lembrança dos atos maus que dois homens
praticaram um contra o outro constitui obstáculo a que
entre eles reine simpatia?
“Essa lembrança os induz a se afastarem um do
outro.”
295. Que sentimento anima, depois da morte, aqueles a
quem fizemos mal neste mundo?
“Se são bons, eles vos perdoam, segundo o vosso
arrependimento. Se maus, é
possível que guardem ressentimento do mal que
lhes fizestes e vos persigam até, não raro, em outra
existência. Deus pode permitir que assim seja, por
castigo.”
296. São suscetíveis de alterar-se as afeições individuais
dos Espíritos?
“Não, por não estarem eles sujeitos a enganar-se.
Falta-lhes a máscara sob que se escondem os hipócritas.
Daí vem que, sendo puros, suas afeições são
inalteráveis. Suprema felicidade lhes advém do
amor que os une.”
297. Continua a existir sempre, no mundo dos Espíritos,
a afeição mútua que dois seres se consagraram na Terra?
“Sem dúvida, desde que originada de verdadeira
simpatia. Se, porém, nasceu
principalmente de causas de ordem física,
desaparece com a causa. As afeições entre os
Espíritos são mais sólidas e duráveis do que na
Terra, porque não se acham subordinadas aos
caprichos dos interesses materiais e do amor-
próprio.”
298. As almas que devam unir-se estão, desde suas
origens, predestinadas a essa união e cada um de nós tem,
nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente
um dia reunirá?
“Não; não há união particular e fatal, de duas
almas. A união que há é a de todos os Espíritos,
mas em graus diversos, segundo a categoria que
ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham
adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais
unidos. Da discórdia nascem todos os males dos
humanos; da concórdia resulta a completa
felicidade.”
299. Em que sentido se deve entender a palavra metade,
de que alguns Espíritos se servem para designar os
Espíritos simpáticos?
“A expressão é inexata. Se um Espírito fosse a
metade do outro, separados os dois, estariam
ambos incompletos.”
300. Se dois Espíritos perfeitamente simpáticos se
reunirem, estarão unidos para todo o sempre, ou poderão
separar-se e unir-se a outros Espíritos?
“Todos os Espíritos estão reciprocamente unidos.
Falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas
inferiores, desde que um Espírito se eleva, já não
simpatiza, como dantes, com os que lhe ficaram
abaixo.”
301. Dois Espíritos simpáticos são complemento um do
outro, ou a simpatia entre eles existente é resultado de
identidade perfeita?
“A simpatia que atrai um Espírito para outro resulta
da perfeita concordância de
seus pendores e instintos. Se um tivesse que
completar o outro, perderia a sua individualidade.”
302. A identidade necessária à existência da simpatia
perfeita apenas consiste na analogia dos pensamentos e
sentimentos, ou também na uniformidade dos
conhecimentos adquiridos?
“Na igualdade dos graus da elevação.”
303. Podem tornar-se de futuro simpáticos, Espíritos que
presentemente não o são?
“Todos o serão. Um Espírito, que hoje está numa
esfera inferior, ascenderá, aperfeiçoando-se, à em
que se acha tal outro Espírito. E ainda mais
depressa se dará o encontro dos dois, se o mais
elevado, por suportar mal as provas a que esteja
submetido, permanecer estacionário.”
a) - Podem deixar de ser simpáticos um ao outro dois
Espíritos que já o sejam?
“Certamente, se um deles for preguiçoso.”
A teoria das metades eternas encerra uma simples
figura, representativa da união de dois Espíritos
simpáticos. Trata-se de uma expressão usada até na
linguagem vulgar e que se não deve tomar ao pé da
letra. Não pertencem decerto a uma ordem elevada os
Espíritos que a empregaram. Necessariamente, limitado
sendo o campo de suas idéias, exprimiram seus
pensamentos com os termos de que se teriam utilizado
na vida corporal. Não se deve, pois, aceitar a idéia de
que, criados um para o outro, dois Espíritos tenham,
fatalmente, que se reunir um dia na eternidade, depois
de haverem estado separados por tempo mais ou menos
longo.
Metades Eternas
Extraímos a seguinte passagem da carta de um de
nossos assinantes. “(...) Há alguns anos perdi uma
esposa boa e virtuosa e, malgrado me houvesse
deixado seis filhos, sentia-me em completo
isolamento, quando ouvi falar das manifestações
espíritas. Logo me encontrava no seio de um
pequeno grupo de
bons amigos, que todas as noites se ocupavam desse
assunto. Nas comunicações obtidas, cedo aprendi
que a verdadeira vida não está na Terra, mas no
mundo dos Espíritos; que minha Clémence lá era
feliz e que, como os outros, trabalhava pela
felicidade dos que aqui havia conhecido. Ora, eis
um ponto sobre o qual desejo ardentemente ser por
vós esclarecido.
“Uma noite, dizia eu à minha Clémence: querida amiga,
por que, apesar de todo o nosso amor, acontecia que nem
sempre nos púnhamos de acordo nas diferentes
circunstâncias de nossa vida comum, e por que muitas
vezes éramos forçados a nos fazer mútuas concessões para
vivermos em boa harmonia?
“Ela me respondeu isto: meu amigo, éramos pessoas
honradas e honestas; vivemos juntos, e poderíamos dizer,
do melhor modo possível nesta Terra de provas; mas não
éramos nossas metades eternas. Tais uniões são raras na
Terra; podem ser encontradas, entretanto representam um
grande favor de Deus. Os que desfrutam dessa felicidade
experimentam alegrias que te são desconhecidas.
“Podes dizer-me – repliquei – se vês tua metade eterna?
– Sim, diz ela, é um pobre coitado que vive na Ásia; só
poderá reunir-se a mim dentro de 175 anos, segundo a
vossa maneira de contar. – Reunir-vos-eis na Terra ou
num outro mundo? – Na Terra.
Mas escuta: não te posso descrever bem a felicidade dos
seres assim reunidos; rogarei a Heloísa e Abelardo que
te venham informar. – Então, senhor, esses dois seres
felizes vieram nos falar dessa indizível felicidade. “À
nossa vontade”, disseram eles, “dois não fazem mais
que um; viajamos nos espaços; desfrutamos de tudo;
amamo-nos com um amor sem-fim, acima do qual só
pode existir o amor de Deus e dos seres perfeitos.
Vossas maiores alegrias não valem um só de nossos
olhares, um só de nossos apertos de mão.”
“A idéia das metades eternas me alegra. Ao criar a
Humanidade, parece que Deus a fez dupla e, ao
separar suas duas metades, teria dito: Ide por esse
mundo e procurai encarnações.
Se fizerdes o bem, a viagem será curta e permitirei a
vossa união; do contrário, muitos séculos se passarão
antes que possais desfrutar dessa felicidade. Tal é,
parece-me, a causa primeira do movimento instintivo
que leva a Humanidade a buscar a felicidade;
felicidade que não compreendemos e que não nos
damos ao trabalho de compreender.
“Desejo ardentemente, senhor, ser esclarecido sobre
essa teoria das metades eternas e ficaria feliz se
encontrasse uma explicação sobre o assunto em um
dos vossos próximos números (...)”
Abelardo e Heloísa, interrogados sobre esse ponto,
nos deram as seguintes respostas:
P. As almas foram criadas duplas?
Resp. – Se tivessem sido criadas duplas as simples
seriam imperfeitas.
P. É possível reunirem-se duas almas na eternidade
e formarem um todo?
Resp. – Não.
P. Tu e Heloísa formastes, desde a origem, dois seres
bem distintos?
Resp. – Sim.
P. Formai-vos ainda, neste momento, duas almas
distintas?
Resp. – Sim; mas sempre unidas.
P. Todos os homens se encontram na mesma
condição?
Resp. – Conforme sejam mais ou menos perfeitos.
P. Todas as almas são destinadas a um dia se unirem a uma
outra alma?
Resp. – Cada Espírito tem a tendência de procurar um outro
Espírito que lhe seja afim; a isso chamas simpatia.
P. Nessa união há uma condição de sexo?
Resp. – As almas não têm sexo.
Tanto para satisfazer o desejo de nosso assinante quanto para
nossa própria instrução, dirigimos ao Espírito São Luís as
seguintes perguntas:
1. As almas que devem unir-se estão, desde suas origens,
predestinadas a essa união e cada um de nós tem,
nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente
um dia se reunirá?
Resp. – Não; não há união particular e fatal, de duas
almas. A união que há é a de todos os Espíritos, mas em
graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é,
segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais
perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os
males humanos; da concórdia resulta a completa
felicidade.
2. Em que sentido se deve entender a palavra
metade, de que alguns Espíritos se servem
para designar os Espíritos simpáticos?
Resp. – A expressão é inexata. Se um Espírito
fosse a metade do outro, separados os dois,
estariam ambos incompletos;
3. Se dois Espíritos perfeitamente simpáticos se reunirem, estarão
unidos para todo o sempre, ou poderão separar-se e se unirem a
outros Espíritos?
Resp. – Todos os Espíritos estão reciprocamente unidos. Falo dos que
atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, desde que um Espírito
se eleva, já não simpatiza, como dantes, com os que lhe ficaram
abaixo.
4. Dois Espíritos simpáticos são complemento um do outro, ou a
simpatia entre eles existente é resultado de identidade perfeita?
Resp. – A simpatia que atrai um Espírito a outro resulta da perfeita
concordância de seus pendores e instintos. Se um tivesse que
5. A identidade necessária à existência da
simpatia perfeita apenas consiste na analogia
dos pensamentos e sentimentos, ou também
na uniformidade dos conhecimentos
adquiridos?
Resp. – Na igualdade dos graus de elevação.
6. Podem tornar-se simpáticos futuramente
Espíritos que no momento não o são?
Resp. – Todos o serão. Um Espírito, que hoje está
numa esfera inferior, ascenderá, aperfeiçoando-se, à
em que se acha tal outro Espírito. E ainda mais
depressa se dará o encontro dos dois, se o mais
elevado, suportando mal as provas a que se
submeteu, demorou-se no mesmo estado.
7. Podem deixar de ser simpáticos um ao outro, dois
Espíritos que já o sejam?
Resp. – Certamente, se um deles for preguiçoso. Essas
respostas resolvem perfeitamente a questão. A teoria das
metades eternas encerra uma simples figura, representativa
da união de dois Espíritos simpáticos. Trata-se de uma
expressão usada até na linguagem vulgar e que se não deve
tomar ao pé da letra. Não pertencem, decerto, a uma ordem
elevada os Espíritos que a empregaram. Sendo
necessariamente limitado o campo de suas idéias,
exprimiram seus pensamentos com os termos de que se
teriam utilizado na vida corporal. Não se deve, pois, aceitar
a idéia de que, criado um para o outro, dois Espíritos
tenham fatalmente de reunir-se um dia na eternidade,
depois de estarem separados por tempo mais ou menos
longo.31
31 N. do T.: Esse assunto não foi abordado na
primeira edição de O Livro dos Espíritos, dada a
lume por Allan Kardec a 18 de abril de 1857, e que
continha somente 501 perguntas, divididas em três
partes. Aparece na segunda edição – definitiva – de
1860. As sete questões acima correspondem às
perguntas de números 298 a 303 a, do referido livro,
acrescidas dos comentários com que o
Codificador as enriqueceu.
Vide Nota à questão 324, inserta no final do livro O
Consolador, do Espírito Emmanuel, editado pela
FEB e psicografado pelo médium Francisco
Cândido Xavier, a respeito da teoria das almas
gêmeas.

Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos

  • 1.
    Relações de simpatiae de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas 291. Além da simpatia geral, oriunda da semelhança que entre eles exista, votam-se os Espíritos recíprocas afeições particulares? “Do mesmo modo que os homens, sendo, porém, que mais forte é o laço que prende os Espíritos uns aos outros, quando carentes de corpo material, porque então esse laço não se acha exposto às vicissitudes das paixões.”
  • 2.
    292. Alimentam ódioentre si os Espíritos? “Só entre os Espíritos impuros há ódio e são eles que insuflam nos homens as inimizades e as dissensões.”
  • 3.
    293. Conservarão ressentimentoum do outro, no mundo dos Espíritos, dois seres que foram inimigos na Terra? “Não; compreenderão que era estúpido o ódio que se votavam e pueril o motivo que o inspirava. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma espécie de animosidade, enquanto se não purificam. Se foi unicamente um interesse material o que os inimizou, nisso não pensarão mais, por pouco desmaterializados que estejam. Não havendo entre eles antipatia e tendo deixado de existir a causa de suas desavenças, aproximam-se uns dos outros com prazer.” Sucede como entre dois colegiais que, chegando à idade da ponderação reconhecem a puerilidade de suas dissensões infantis e deixam de se malquerer.
  • 4.
    294. A lembrançados atos maus que dois homens praticaram um contra o outro constitui obstáculo a que entre eles reine simpatia? “Essa lembrança os induz a se afastarem um do outro.”
  • 5.
    295. Que sentimentoanima, depois da morte, aqueles a quem fizemos mal neste mundo? “Se são bons, eles vos perdoam, segundo o vosso arrependimento. Se maus, é possível que guardem ressentimento do mal que lhes fizestes e vos persigam até, não raro, em outra existência. Deus pode permitir que assim seja, por castigo.”
  • 6.
    296. São suscetíveisde alterar-se as afeições individuais dos Espíritos? “Não, por não estarem eles sujeitos a enganar-se. Falta-lhes a máscara sob que se escondem os hipócritas. Daí vem que, sendo puros, suas afeições são inalteráveis. Suprema felicidade lhes advém do amor que os une.”
  • 7.
    297. Continua aexistir sempre, no mundo dos Espíritos, a afeição mútua que dois seres se consagraram na Terra? “Sem dúvida, desde que originada de verdadeira simpatia. Se, porém, nasceu principalmente de causas de ordem física, desaparece com a causa. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e duráveis do que na Terra, porque não se acham subordinadas aos caprichos dos interesses materiais e do amor- próprio.”
  • 8.
    298. As almasque devam unir-se estão, desde suas origens, predestinadas a essa união e cada um de nós tem, nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente um dia reunirá? “Não; não há união particular e fatal, de duas almas. A união que há é a de todos os Espíritos, mas em graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.”
  • 9.
    299. Em quesentido se deve entender a palavra metade, de que alguns Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos? “A expressão é inexata. Se um Espírito fosse a metade do outro, separados os dois, estariam ambos incompletos.”
  • 10.
    300. Se doisEspíritos perfeitamente simpáticos se reunirem, estarão unidos para todo o sempre, ou poderão separar-se e unir-se a outros Espíritos? “Todos os Espíritos estão reciprocamente unidos. Falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, desde que um Espírito se eleva, já não simpatiza, como dantes, com os que lhe ficaram abaixo.”
  • 11.
    301. Dois Espíritossimpáticos são complemento um do outro, ou a simpatia entre eles existente é resultado de identidade perfeita? “A simpatia que atrai um Espírito para outro resulta da perfeita concordância de seus pendores e instintos. Se um tivesse que completar o outro, perderia a sua individualidade.”
  • 12.
    302. A identidadenecessária à existência da simpatia perfeita apenas consiste na analogia dos pensamentos e sentimentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos? “Na igualdade dos graus da elevação.”
  • 13.
    303. Podem tornar-sede futuro simpáticos, Espíritos que presentemente não o são? “Todos o serão. Um Espírito, que hoje está numa esfera inferior, ascenderá, aperfeiçoando-se, à em que se acha tal outro Espírito. E ainda mais depressa se dará o encontro dos dois, se o mais elevado, por suportar mal as provas a que esteja submetido, permanecer estacionário.”
  • 14.
    a) - Podemdeixar de ser simpáticos um ao outro dois Espíritos que já o sejam? “Certamente, se um deles for preguiçoso.” A teoria das metades eternas encerra uma simples figura, representativa da união de dois Espíritos simpáticos. Trata-se de uma expressão usada até na linguagem vulgar e que se não deve tomar ao pé da letra. Não pertencem decerto a uma ordem elevada os Espíritos que a empregaram. Necessariamente, limitado sendo o campo de suas idéias, exprimiram seus pensamentos com os termos de que se teriam utilizado na vida corporal. Não se deve, pois, aceitar a idéia de que, criados um para o outro, dois Espíritos tenham, fatalmente, que se reunir um dia na eternidade, depois de haverem estado separados por tempo mais ou menos longo.
  • 15.
    Metades Eternas Extraímos aseguinte passagem da carta de um de nossos assinantes. “(...) Há alguns anos perdi uma esposa boa e virtuosa e, malgrado me houvesse deixado seis filhos, sentia-me em completo isolamento, quando ouvi falar das manifestações espíritas. Logo me encontrava no seio de um pequeno grupo de bons amigos, que todas as noites se ocupavam desse assunto. Nas comunicações obtidas, cedo aprendi que a verdadeira vida não está na Terra, mas no mundo dos Espíritos; que minha Clémence lá era feliz e que, como os outros, trabalhava pela felicidade dos que aqui havia conhecido. Ora, eis um ponto sobre o qual desejo ardentemente ser por vós esclarecido.
  • 16.
    “Uma noite, diziaeu à minha Clémence: querida amiga, por que, apesar de todo o nosso amor, acontecia que nem sempre nos púnhamos de acordo nas diferentes circunstâncias de nossa vida comum, e por que muitas vezes éramos forçados a nos fazer mútuas concessões para vivermos em boa harmonia? “Ela me respondeu isto: meu amigo, éramos pessoas honradas e honestas; vivemos juntos, e poderíamos dizer, do melhor modo possível nesta Terra de provas; mas não éramos nossas metades eternas. Tais uniões são raras na Terra; podem ser encontradas, entretanto representam um grande favor de Deus. Os que desfrutam dessa felicidade experimentam alegrias que te são desconhecidas.
  • 17.
    “Podes dizer-me –repliquei – se vês tua metade eterna? – Sim, diz ela, é um pobre coitado que vive na Ásia; só poderá reunir-se a mim dentro de 175 anos, segundo a vossa maneira de contar. – Reunir-vos-eis na Terra ou num outro mundo? – Na Terra. Mas escuta: não te posso descrever bem a felicidade dos seres assim reunidos; rogarei a Heloísa e Abelardo que te venham informar. – Então, senhor, esses dois seres felizes vieram nos falar dessa indizível felicidade. “À nossa vontade”, disseram eles, “dois não fazem mais que um; viajamos nos espaços; desfrutamos de tudo; amamo-nos com um amor sem-fim, acima do qual só pode existir o amor de Deus e dos seres perfeitos. Vossas maiores alegrias não valem um só de nossos olhares, um só de nossos apertos de mão.”
  • 18.
    “A idéia dasmetades eternas me alegra. Ao criar a Humanidade, parece que Deus a fez dupla e, ao separar suas duas metades, teria dito: Ide por esse mundo e procurai encarnações. Se fizerdes o bem, a viagem será curta e permitirei a vossa união; do contrário, muitos séculos se passarão antes que possais desfrutar dessa felicidade. Tal é, parece-me, a causa primeira do movimento instintivo que leva a Humanidade a buscar a felicidade; felicidade que não compreendemos e que não nos damos ao trabalho de compreender.
  • 19.
    “Desejo ardentemente, senhor,ser esclarecido sobre essa teoria das metades eternas e ficaria feliz se encontrasse uma explicação sobre o assunto em um dos vossos próximos números (...)” Abelardo e Heloísa, interrogados sobre esse ponto, nos deram as seguintes respostas: P. As almas foram criadas duplas? Resp. – Se tivessem sido criadas duplas as simples seriam imperfeitas.
  • 20.
    P. É possívelreunirem-se duas almas na eternidade e formarem um todo? Resp. – Não. P. Tu e Heloísa formastes, desde a origem, dois seres bem distintos? Resp. – Sim.
  • 21.
    P. Formai-vos ainda,neste momento, duas almas distintas? Resp. – Sim; mas sempre unidas. P. Todos os homens se encontram na mesma condição? Resp. – Conforme sejam mais ou menos perfeitos.
  • 22.
    P. Todas asalmas são destinadas a um dia se unirem a uma outra alma? Resp. – Cada Espírito tem a tendência de procurar um outro Espírito que lhe seja afim; a isso chamas simpatia. P. Nessa união há uma condição de sexo? Resp. – As almas não têm sexo. Tanto para satisfazer o desejo de nosso assinante quanto para nossa própria instrução, dirigimos ao Espírito São Luís as seguintes perguntas:
  • 23.
    1. As almasque devem unir-se estão, desde suas origens, predestinadas a essa união e cada um de nós tem, nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente um dia se reunirá? Resp. – Não; não há união particular e fatal, de duas almas. A união que há é a de todos os Espíritos, mas em graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.
  • 24.
    2. Em quesentido se deve entender a palavra metade, de que alguns Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos? Resp. – A expressão é inexata. Se um Espírito fosse a metade do outro, separados os dois, estariam ambos incompletos;
  • 25.
    3. Se doisEspíritos perfeitamente simpáticos se reunirem, estarão unidos para todo o sempre, ou poderão separar-se e se unirem a outros Espíritos? Resp. – Todos os Espíritos estão reciprocamente unidos. Falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, desde que um Espírito se eleva, já não simpatiza, como dantes, com os que lhe ficaram abaixo. 4. Dois Espíritos simpáticos são complemento um do outro, ou a simpatia entre eles existente é resultado de identidade perfeita? Resp. – A simpatia que atrai um Espírito a outro resulta da perfeita concordância de seus pendores e instintos. Se um tivesse que
  • 26.
    5. A identidadenecessária à existência da simpatia perfeita apenas consiste na analogia dos pensamentos e sentimentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos? Resp. – Na igualdade dos graus de elevação.
  • 27.
    6. Podem tornar-sesimpáticos futuramente Espíritos que no momento não o são? Resp. – Todos o serão. Um Espírito, que hoje está numa esfera inferior, ascenderá, aperfeiçoando-se, à em que se acha tal outro Espírito. E ainda mais depressa se dará o encontro dos dois, se o mais elevado, suportando mal as provas a que se submeteu, demorou-se no mesmo estado.
  • 28.
    7. Podem deixarde ser simpáticos um ao outro, dois Espíritos que já o sejam? Resp. – Certamente, se um deles for preguiçoso. Essas respostas resolvem perfeitamente a questão. A teoria das metades eternas encerra uma simples figura, representativa da união de dois Espíritos simpáticos. Trata-se de uma expressão usada até na linguagem vulgar e que se não deve tomar ao pé da letra. Não pertencem, decerto, a uma ordem elevada os Espíritos que a empregaram. Sendo necessariamente limitado o campo de suas idéias, exprimiram seus pensamentos com os termos de que se teriam utilizado na vida corporal. Não se deve, pois, aceitar a idéia de que, criado um para o outro, dois Espíritos tenham fatalmente de reunir-se um dia na eternidade, depois de estarem separados por tempo mais ou menos longo.31
  • 29.
    31 N. doT.: Esse assunto não foi abordado na primeira edição de O Livro dos Espíritos, dada a lume por Allan Kardec a 18 de abril de 1857, e que continha somente 501 perguntas, divididas em três partes. Aparece na segunda edição – definitiva – de 1860. As sete questões acima correspondem às perguntas de números 298 a 303 a, do referido livro, acrescidas dos comentários com que o Codificador as enriqueceu. Vide Nota à questão 324, inserta no final do livro O Consolador, do Espírito Emmanuel, editado pela FEB e psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, a respeito da teoria das almas gêmeas.