Artefatos arqueológicos são
bons para pensar sobre a
história humana profunda?
Katherine G. de Oliveira
Mestranda no PPHHist, bolsista FAPEG
1- As técnicas e sua
atemporalidade no
contexto humano
• As técnicas fazem parte da constituição humana
• As técnicas resultam de tradições culturais e as
tradições culturais as mantém em desenvolvimento
• Evolução humana x evolução das técnicas
• Desde de inicio ate o presente
2- História de
longa
duração
• Pré-história e História: uma fragmentação temporal
não coerente
• Tempo e a Memoria
• Construção Histórica Tradicional
• Discurso Colonialista
• O potencial dos artefatos para a compreensão
de parcelas da história profunda
• Introdução dos instrumentos no convívio de uma
sociedade
• Auxilio instrumental
• Paisagem fenomenologia
3. Introdução
aos estudos da
materialidade
lítica
• Técnicas, nem mais, nem menos: relações simétricas
entre pessoas, ambiente e artefatos
• Relação entre o indivíduo e o ambiente é o
conceito de meio associado de Simondon.
• Espaço vivenciado
• O que é o material lítico? O que é um instrumento
lítico?
• Material lítico e suas variações
• Como identificar material lítico
• Características técnicas
• Instrumento lítico
• Como identificar o instrumento
• Um instrumento arqueológico e suas unidades
transformativas: a concepção do “canivete suíço” a
4- Cadeia operatória
Planejamento Mental
1º Momento
2º Momento
• Gestão de matéria-prima e o ambiente vivido
• Áreas de captação de recursos
• Necessidade X Ocasião X Disponibilidade X Qualidade
• Produção do instrumento: técnicas e gestos
• A variabilidade instrumental é um fragmento do universo tecnológico
• A percepção de um objeto técnico não se revela pelo produto final
• A aprendizagem gestual durante a produção articula-se de técnica e tecnologia
• O desenvolvimento articulado é influenciado pelo universo tecnológico social
• Conhecimento adquirido por um individuo é conhecimento disponibilizado pela sociedade
• Utilização e manuseio do instrumento: pensando com as mãos e corpos
• Instrumento como extensão do corpo
PNEU
1º Momento
2º Momento
Descarte
Uso
Produção
Escolha e Aquisição
De Matéria Prima
Escolha e seleção
de Matéria Prima
Produção
Ressignificação
Instrumentos
Liticos
5- Ampliando os estudos tecnológicos
• Reconhecimento de lascamentos antrópicos e naturais – como identificar um objeto
arqueológico?
• Estigmas técnicos
• Lascamentos naturais
• Experimentação – para além da produção de réplicas
• Porque fazer experimentação
• Como observar os estigmas deixados
• Comparações entre replicas e vestígios
• Traceologia – buscando entender a função dos instrumentos
• Identificação macro e microscópica
• Como entender os traços de utilização
• Observando e compreendendo os traços
6- Arqueologia e História: ampliando a diversidade da história dos
povos originários
A compreensão da materialidade arqueológica, no entendimento das particularidades culturais
dos grupos humanos viventes no passado e a tecnologia aliada
A análise dos vestígios materiais e na paisagem local, rompe com a perspectiva pós-colonial, para
a interpretação dos grupos antigos
A necessidade da mudança no modo como observamos os grupos originários
A arqueologia e as histórias dos grupos humanos do passado
Bibliografia
ATALAY, S. Indigenous Archaeology as Decolonizing Practice. American Indian Quarterly, v.30, No. 3/4,
Special Issue: Decolonizing Archaeology, 2006, p. 280-310
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Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994. p. 47-58
BETTENCOURT, Lúcia. Cartas brasileiras: visão e revisão dos índios. In: GRUPIONI, Luís Donisete
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COSTA, D; VIANA, S. Materializando A História: O Passado Humano Através Da Cultura Material.
Revista Mosaico, v.12, 2019, p.3-13
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HODDER, Ian (ed.). Archaeological theory today. Hoboken: Willey, 2001. p. 241-260.
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2016; 123-166.
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476
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Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 31-
46
LIGHTFOOT, K. “Rethinking the Archaeology of Human/Environmenal Interactions in Deep Time
History”. In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming
the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 183-200
LIMA, T. Cultura material: a dimensão concreta das relações sociais Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, 2011 p. 11-23.
MROZOWSKI, S. “The Tyranny of Prehistory and the Search for a Deeper History”. In: SCHMIDT,
Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the
Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 220-240
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa;
MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina S.A., 2009, p.
73-118.
REIS, J. O conceito de tempo histórico em ricoeur, koselleck e "annales": uma articulação possível.
Revista síntese nova fase, v. 23 n. 73. 1996 p. 229-252
REIS, J. O impacto de 1989 na historiografia. In: Teoria e História. Rio de Janeiro: FGV Editora,
2012, p.69-109.
SCHMITZ, P. Arqueologia nos cerrados do Brasil Central. Serranópolis I. Pesquisas. São Leopoldo,
n.44, 1989.
SCHMIDT, P; MROZOWSKI, S. “The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future”.
In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past,
Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 1-32
SMAIL, D; SHRYOCK, A. History and the ‘pre’. The American Historical Review, Bloomington, v.
118, n. 3, p. 709-757, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1093/ahr/118.3.709.
SMAIL, D. Preface: ‘The gift of history’. In: MCGRATH, Ann; JEBB, Mary Anne (ed.). Long history,
deep time: deepening histories of place. Australia: ANU Press, 2015.
TRIGGER, Bruce G. Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist. Man, London, v.
19, n. 3, p. 355-370, 1984. DOI: https://doi.org/10.2307/2802176.
Obrigada

Tecnologia litica e historia profunda dos artefatos

  • 1.
    Artefatos arqueológicos são bonspara pensar sobre a história humana profunda? Katherine G. de Oliveira Mestranda no PPHHist, bolsista FAPEG
  • 2.
    1- As técnicase sua atemporalidade no contexto humano • As técnicas fazem parte da constituição humana • As técnicas resultam de tradições culturais e as tradições culturais as mantém em desenvolvimento • Evolução humana x evolução das técnicas • Desde de inicio ate o presente
  • 3.
    2- História de longa duração •Pré-história e História: uma fragmentação temporal não coerente • Tempo e a Memoria • Construção Histórica Tradicional • Discurso Colonialista
  • 4.
    • O potencialdos artefatos para a compreensão de parcelas da história profunda • Introdução dos instrumentos no convívio de uma sociedade • Auxilio instrumental • Paisagem fenomenologia
  • 5.
    3. Introdução aos estudosda materialidade lítica • Técnicas, nem mais, nem menos: relações simétricas entre pessoas, ambiente e artefatos • Relação entre o indivíduo e o ambiente é o conceito de meio associado de Simondon. • Espaço vivenciado • O que é o material lítico? O que é um instrumento lítico? • Material lítico e suas variações • Como identificar material lítico • Características técnicas • Instrumento lítico • Como identificar o instrumento • Um instrumento arqueológico e suas unidades transformativas: a concepção do “canivete suíço” a
  • 6.
    4- Cadeia operatória PlanejamentoMental 1º Momento 2º Momento
  • 7.
    • Gestão dematéria-prima e o ambiente vivido • Áreas de captação de recursos • Necessidade X Ocasião X Disponibilidade X Qualidade • Produção do instrumento: técnicas e gestos • A variabilidade instrumental é um fragmento do universo tecnológico • A percepção de um objeto técnico não se revela pelo produto final • A aprendizagem gestual durante a produção articula-se de técnica e tecnologia • O desenvolvimento articulado é influenciado pelo universo tecnológico social • Conhecimento adquirido por um individuo é conhecimento disponibilizado pela sociedade • Utilização e manuseio do instrumento: pensando com as mãos e corpos • Instrumento como extensão do corpo
  • 8.
  • 9.
    Escolha e seleção deMatéria Prima Produção Ressignificação Instrumentos Liticos
  • 10.
    5- Ampliando osestudos tecnológicos • Reconhecimento de lascamentos antrópicos e naturais – como identificar um objeto arqueológico? • Estigmas técnicos • Lascamentos naturais • Experimentação – para além da produção de réplicas • Porque fazer experimentação • Como observar os estigmas deixados • Comparações entre replicas e vestígios • Traceologia – buscando entender a função dos instrumentos • Identificação macro e microscópica • Como entender os traços de utilização • Observando e compreendendo os traços
  • 11.
    6- Arqueologia eHistória: ampliando a diversidade da história dos povos originários A compreensão da materialidade arqueológica, no entendimento das particularidades culturais dos grupos humanos viventes no passado e a tecnologia aliada A análise dos vestígios materiais e na paisagem local, rompe com a perspectiva pós-colonial, para a interpretação dos grupos antigos A necessidade da mudança no modo como observamos os grupos originários A arqueologia e as histórias dos grupos humanos do passado
  • 12.
    Bibliografia ATALAY, S. IndigenousArchaeology as Decolonizing Practice. American Indian Quarterly, v.30, No. 3/4, Special Issue: Decolonizing Archaeology, 2006, p. 280-310 BELLUZZO, Ana Maria de M. A lógica das imagens e os habitantes do Novo Mundo. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994. p. 47-58 BETTENCOURT, Lúcia. Cartas brasileiras: visão e revisão dos índios. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994. p. 39-46. COSTA, D; VIANA, S. Materializando A História: O Passado Humano Através Da Cultura Material. Revista Mosaico, v.12, 2019, p.3-13 CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. scientiæ zudia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004, p. 493-518 GONÇALVES, J. Teorias antropológicas e objetos materiais In: Antropologia dos Objetos: coleções, museus e patrimônios. Rio de Janeiro: IPHAN / DEMU, Col. Museu, Memória e Cidadania. 2007. GOSDEN, Chris. Postcolonial Archaeologies: issues of identity, culture, and knowledge. In: HODDER, Ian (ed.). Archaeological theory today. Hoboken: Willey, 2001. p. 241-260. HABER, A. Arqueología indisciplinada y descolonización del conocimiento. Ediciones del Signo; 2016; 123-166. HARTOG, F. Do lado dos historiadores: os avatares do regime moderno de historicidade. In: HARTOG, François. Crer na História. Belo Horizonte: Autêntica, 2017, p.175-220. KEHOE, A. The invention of prehistory. Current Anthropology, New York, v. 32, n. 4, 1991, p. 467- 476 KEHOE, A. “Prehistory’s History”. In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 31- 46 LIGHTFOOT, K. “Rethinking the Archaeology of Human/Environmenal Interactions in Deep Time History”. In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 183-200 LIMA, T. Cultura material: a dimensão concreta das relações sociais Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, 2011 p. 11-23. MROZOWSKI, S. “The Tyranny of Prehistory and the Search for a Deeper History”. In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 220-240 QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina S.A., 2009, p. 73-118. REIS, J. O conceito de tempo histórico em ricoeur, koselleck e "annales": uma articulação possível. Revista síntese nova fase, v. 23 n. 73. 1996 p. 229-252 REIS, J. O impacto de 1989 na historiografia. In: Teoria e História. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2012, p.69-109. SCHMITZ, P. Arqueologia nos cerrados do Brasil Central. Serranópolis I. Pesquisas. São Leopoldo, n.44, 1989. SCHMIDT, P; MROZOWSKI, S. “The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future”. In: SCHMIDT, Peter & MROZOWSKI, Stephen (eds.), The Death of Prehistory Reforming the Past, Looking to the Future Oxford: Oxford University Press. 2013 p. 1-32 SMAIL, D; SHRYOCK, A. History and the ‘pre’. The American Historical Review, Bloomington, v. 118, n. 3, p. 709-757, June 2013. DOI: https://doi.org/10.1093/ahr/118.3.709. SMAIL, D. Preface: ‘The gift of history’. In: MCGRATH, Ann; JEBB, Mary Anne (ed.). Long history, deep time: deepening histories of place. Australia: ANU Press, 2015. TRIGGER, Bruce G. Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist. Man, London, v. 19, n. 3, p. 355-370, 1984. DOI: https://doi.org/10.2307/2802176.
  • 13.

Notas do Editor

  • #2 - As técnicas fazem parte da constituição humana (desde os primeiros hominídeos até a atualidade), elas são inseparáveis das experiências dos sujeitos, ao mesmo tempo elas (as técnicas) existem pela dimensão humana, mediadas por tradições culturais, conhecimentos, aprendizagem, habilidade. - A partir dessa conjugação entre as pessoas e as técnicas, considera-se que a evolução das técnicas está atrelada à evolução humana, há portanto, uma coevolução, existente ao longo do tempo, presente desde os primeiros hominídeos até a contemporaneidade é importante ressaltar a necessidade de desconstruir a dicotomia de historia x pré-história, onde tudo anterior a colonização era considerado pré-histórico. Nesse sentido, o termo “pré-história” não será utilizado para relacionar as sociedades não remanescentes, pois entende-se que os mesmos dotavam de estórias e memórias, essas impressas por marcas na paisagem e por vestígios materiais.
  • #3 conceito de história de longa duração baseada em Braudel (1949) e de história profunda (SMAIL, 2015). Tais perspectivas rejeitam a concepção linear e contínua da temporalidade histórica da humanidade Sabe-se que dados históricos isolados não refletem aos modos de vida de uma sociedade em sua totalidade, em casos é apenas um recorte em um determinado momento, que reflete uma pequena parte ou acontecimento de uma sociedade, deixando de lado outras questões sociais como: as tradições, memórias e hábitos do cotidiano de uma sociedade. A construção da história e de narrativas históricas geralmente são apoiadas em documentos (oficiais ou não), nos testemunhos orais (quando possível). Entende-se que essa perspectiva pode ser ampliada ao considerar dados sobre os conhecimentos indígenas com a incorporação de dados arqueológicos (SHRYOCK, SMAIL, 2015). A história do tempo profundo atua como um conceito aberto, livre de divisões temporais e culturais que dominaram a história tradicional. A história de tempo profundo pode abarcar temporalidades bem remotas, como é o caso de sítios arqueológicos anteriores a colonização europeia, quando não é possível uma conexão direta entre os grupos do passado e os grupos indígenas da atualidade; mas também esse conceito pode abarcar grupos humanos cujas memórias sociais podem ser revividas, de modo a trazer o passado para o presente, invocando a ancestralidade. Em ambos os casos a história profunda é viva, pois transita em um espaço liminar sem limites, nem passado nem presente, nem pré ou pós, com o intuito de construir diferentes mosaicos culturais do passado tendo como base vestígios materiais, textos, narrativas, testemunhos orais, tornando-os em histórias coerente para o cenário atual (MROZOWSKI, 2013). Quando se pensa em história, temos como primeiro pensamento documentos e relatos orais, onde eram descritos sociedades e acontecimentos do passado. No caso da América do Sul, os primeiros registros “oficiais”, em sua maioria, foram redigidos por colonizadores europeus, os documentos não relatavam a memórias dos povos colonizados e sim relatos dos colonizadores e suas percepções pessoais, onde a historiografia ocidental está relacionada a dominação e exclusão do conhecimento do outro (HABER, 2016). Segundo Hartog (2017), a evolução historiográfica, foi iniciada durante a revolução francesa, quando se buscava a uniformização da história, caracterizando-a como uma visão da história mundial, onde desconsiderava as histórias particulares e as diferentes formas de evolução cultural. Sobre essa questão, o autor argumenta que com a derrubada do muro de Berlim, inicia-se o processo de crise na qual a humanidade define uma história de longa duração, a qual o tempo passado (história) se torna relativo, colocando em questão o papel do historiador na interpretação dos fatos, e na construção dos mesmos. A utilização da história e da arqueologia por meio da cultura material e como ambos se complementam na interpretação historiográfica, para a obtenção de uma maior precisão de dados, onde fatos narrados de acontecimentos como guerras e conflitos, poderiam ser revistos, visando ampliar os conhecimentos das sociedades não remanescentes por meio dos vestígios materiais (LIMA, 2011). Quando a investigação da sociedade é aplicando em tempos mais antigos, onde o entendimento das sociedades do passado é baseado somente por vestígios materiais e marcas na paisagem, onde não existe indivíduos remanescentes e não se tem à disposição documentos escritos ou relatos orais, se faz necessário análises arqueológicas sistemáticas, como meio para compreender os diversos aspectos dessas sociedades do passado. Porém antes de compreender os grupos do passado por meiodos vestígios é preciso pensar em um processo de descolonização, onde se rechaça a conceção de que o passado inicia a partir da colonização europeia, onde apenas quem descreve os fatos (enunciador/arqueólogo/historiador) e o ouvinte (enunciatário) são considerados enquanto o enunciado (indígena/colonizado/dominado) é excluído e tratado apenas como um objeto de pesquisa (HABER, 2016). O colonialismo, processo histórico de dominação europeu, presente em várias partes do mundo, principalmente na América Latina, oprimiu e ainda oprime, de forma direta ou não, diversos grupos culturais de modo violento, impondo uma visão eurocêntrica aos modos de vida dos grupos originários. Com isso, a colonialidade, a herança do colonialismo, foi desenvolvida de modo a manteros paradigmas do colonialismo dentro uma estrutura de poder, escrita sobre narrativas moderna eurocêntricas (QUIJANO, 2009). O termo “pré-história” foi globalmente difundido e refere-se a povos originários que habitavam todo o globo, porém a palavra foi introduzida por pesquisadores para diferenciar o passado tido como “primitivo” e os povos remanescentes de tais culturas, do presente “civilizado” o qual os autores viviam. Segundo Kehoe (1991), o conceito pré-história foi iniciado por Daniel Wilson (1816–1892), tratava-se de um discurso pós-colonial. A utilização desse termo segue com as obras de Wilson e, posteriormente, de Lubbock (1834-1913), que delinearam a pré-história para os leitores de língua inglesa, como forma de distinguir a vida não-ocidental (KEHOE, 2013). Para aqueles que vivem em mundos em que a noção de “pré-história” é uma marca opressiva de privação política, cultural e econômica, os arqueólogos e historiadores não são vistos como cientistas imparciais e benevolentes (SCHMIDT, MROZOWSKI, 2013). A “pré-história” está vinculado à ascensão dos Estados nacionais, baseados em processos de colonização e estão intimamente associadas a uma fragmentação da história de povos originários, estabelecendo um novo marco para o início da história de povosque já se encontravam ali a muito tempo antes (ATALAY, 2006; GOSDEN, 2001; TRIGGER, 1984). Nessa perspectiva colonialista, as narrativas e descrição das sociedades humanas de tempos pretéritos ou não ocidentais foram baseadas nos aspectos da mitologia clássica, onde envolve a desconstrução de suas singularidades, através de atribuições do presente, as quais podem ter sido construídas por meio do compartilhamento de aspectos que caracterizam também o passado da própria sociedade europeia (BELLUZZO, 1994; BETTENCOURT, 1994).A pré-história, como conceito, representa um passado arqueológico caracterizado por uma forma descolada de produção de conhecimento, que perpetua noções colonialistas dos indivíduos colonizados/dominados (HABBER, 2016). Não se trata somente de substituir o termo pré-história por história de longa duração, mas implica numa mudança de atitude do pesquisador, em assumir que o uso de tal terminologia implica na exclusão e na inferiorização de culturas pretéritas e contemporâneas.
  • #4 O entendimento da cultura material não serve apenas na categorização dos vestígios, mas no entendimento de como os mesmos eram utilizados e vivenciados no cotidiano desses grupos humanos. Gonçalves (2007, p. 14), aborda que os “objetos materiais circulam significativamente em nossa vida social por intermédio das categorias culturais ou dos sistemas classificatórios dentro dos quais os situamos, separamos, dividimos e hierarquizamos.” Os objetos organizam e constituem a vida social, eles permitem que os indivíduos ou grupos sociais experimentem subjetivamente seus papeis sociais. Nessa perspectiva, a cultura material não é um acompanhamento, mas um elemento que tem agência sobre as pessoas. É a partir dessa perspectiva ampliada de cultura material que entendo a tecnologia, não como um simples procedimento de fazer as coisas, mas um modo de identificar possíveis expressões de “identidade” dos grupos pretéritos (COSTA & VIANA, 2019).A cultura material e suas relações com o meio podem ser interpretados e transcritos. Suas simbologias muitas vezes não são possíveis de identificação, mas com análises sistemáticas, associadas ao meio envolvente, muito pode ser compreendido. O contexto do sítio é de suma importância, pois como fora abordado por Gonçalves (2015), objetos sem contexto de lugares e grupos diferentes, expostos lado a lado, serviriam apenas como indicadores dos estágios da evolução, os quais a humanidade vivenciaria como um todo. Logo a tecnologia e estética seria comparada a objetos contemporâneos e poderiam ser classificados, como mais ou menos evoluídos ou complexos e não no mesmo nível social. Pois cada objeto reflete a ação, a simbologias, contextos sociais e hábitos do cotidiano, tanto antigamente, quanto contemporaneamente (LIMA, 2011). Como já citado, dados históricos isolados não refletem aos hábitos de uma sociedade em sua totalidade. Partindo do conceito de longa duração, é preciso ir além dos acontecimentos e fatos relatados, buscando estruturas mais profundas, quase permanentes que regem as sociedades sem que seja percebido (REIS, 1996). Os povos originários são frequentemente vistos como grupos inseridos no sistema colonial e não como habitantes locais interagindo com o meio ambiente em seus próprios termos. A pesquisas sobre as paisagens históricas na arqueologia, destacam que as modificações na paisagem indígena diminuem drasticamente com a chegada de colonos estrangeiros (LIGHTFOOT, 2013). A cultura material e os vestígios deixados na paisagem devem ser interpretados e transcritos, pois suas simbologias muitas vezes não são possíveis de identificação, mas com o auxílio de análises sistemáticas, associadas a paisagem e ao contexto em que fora escavado, muito pode ser dito e compreendido dos hábitos do cotidiano. A busca pela origem do desenvolvimento tecnológico dos grupos originários, assim como, compreensão de sua natureza a partir da materialidade, implica em compreender que as tecnologias não são apenas elementos finais ou um subprodutos de atividades do cotidiano, mas um resultado, que deve ser analisado identificando a produção concreta, os agentes envolvidos, seus aspectos técnicos e em como essa tecnologia influenciou e modificou a sociedade que à utilizava, ou seja, as tecnologias não devem ser vistas, como um fenômeno monolítico, neutro e a-histórico. Sendo assim, as relações humano-tecnologia/humano-máquinas alteram a percepção humana sobre a realidade em níveis profundos e complexos e são parte de um projeto fenomenológico que operam como a base para o entendimento da cultura tecnológica (IHDE, 1979).
  • #5 Para ele, o meio externo é “constituído por características geográficas, zoológicas, botânicas e pelas vizinhanças com outros grupos humanos” e o meio interno “esconde as tradições gerais de cada unidade étnica essas não são menos variáveis”. O meio interno, assim como o externo, possui variáveis, porém cada elemento do meio interno está ligado a elementos que reagem constantemente uns sobre os outros. Esse fato leva a considerar a continuidade do meio técnico (MELLO, 2001). Ele também pode ser associado ao espaço vivenciado, que interioriza as questões de nível material e imaterial (simbólico). Utensílios encontrados numa escavação em Israel comprovam que os antecessores do Homem usavam ferramentas diferentes para cortar carne, serrar ossos e raspar pele
  • #6 A cadeia operatória esta sempre em movimento Ela nunca é linear ela pode dar mil voltas
  • #7  Pode-se pensar nas áreas de captação de recursos como um bom exemplo, para inferir sobre a relação dos indivíduos com o meio ambiente e suas escolhas para a aquisições da matéria-prima. Vale ressaltar alguns aspectos abordados por Perlés (1992) para a obtenção das matérias-primas, como: o grau de dificuldade para acessar as fontes de matéria-prima, os fatores de qualidade, a distância, as escolhas culturais, economia de produção. Extensao do corpo, aquilo que o corpo não faz corta raspa fura serra O artefato em si não é um instrumento ele é instituído como instrumento, pelo individuo que lhe da o status de instrumental, logo eles são instrumentalizados pelos indivíduos que o utilizam Tendo então 3 polos o sujeito que utiliza a instrumento/ o instrumento utilizado para transforma alguma material/ e a matéria a ser transformado pelo instrumento Ou seja os 3 polos trabalham em sinergia Insrtumentalização é a produção como ele foi feito/ tecnologia aplicada na produção/ conjunto de características tecnicas e a instrumentação é a ação como é utilizada/ funcionamento/ produção com o objetivo/ função
  • #8 O conceito de
  • #10 Estigmas técnicos Nucleo Lascas Intrumentos Metodos de lascamento Percussao Alteraçoes Acidentes Diacronia - lascamento acidental, em beira de rios onde seixos são transportados e caem de correntesas, praias com ressaca/ passagem de maquinas como tratores/ pisateio de animais
  • #11 os povos originários, tratados pela arqueologia, são frequentemente vistos como grupos inseridos no sistema colonial e não como habitantes locais, dotados de particularidades culturais e interagindo com o meio ambiente em seus próprios termos (LIGHTFOOT, 2013).Tendo como base inicial a compreensão da materialidade arqueológica, para o entendimento das particularidades culturais dos grupos humanos viventes no passado de Serranópolis, a tecnologia deve ser aliada, não exclusivamente como meio de compreender a transformação de uma matéria para atender um propósito, mas como uma perspectiva que quando firmada a partir da fenomenologia ganha uma dimensão mais ampla, podendo ser considerada como “modo de vida, sobretudo na medida em que esse modo de vida, afeta outros modos em que podem prevalecer outras capacidades humanas” (CUPANI 2004), como de “contemplação da realidade”, de agir, no sentido de “adotar decisões”, de “experimentar sentimentos” e de expressar-se. os vestígios materiais líticos, o entendimento de como os mesmos poderiam ter sido utilizados e vivenciados no cotidiano desses grupos humanos. Gonçalves (2007), salienta que os “objetos materiais circulam significativamente em nossa vida social por intermédio das categorias culturais ou dos sistemas classificatórios dentro dos quais os situamos, separamos, dividimos e hierarquizamos”. Eles não somente refletem a posição das pessoas nas sociedades: Os objetos são parte de um sistema de símbolos que é condição da vida social, organizam ou constituem o modo pelo qual os indivíduos e os grupos sociais experimentam subjetivamente suas identidades (...) organizam ou constituem o modo pelo qual os indivíduos e os grupos sociais experimentam subjetivamente suas identidades e status (GONÇALVES, 2007, p. 21).A ideia a ser aplicada, não se limitar ao traço técnico, mas na busca por elementos para o entendimento do papel ativo desses objetos, dentre dos grupos originários que ocuparam o território a ser analisado, buscando captar possíveis expressões de como tais objetos teriam sido integrados às dinâmicas socioculturais dos grupos em questão (COSTA; VIANA, 2019).Além da cultura material, o contexto em que osvestígios se encontram no sítio e o contexto espacial da paisagem devem ser observados. Os objetos refletem escolhas, agência, simbologias e contextos sociais, seja atualmente como em tempos antigos (LIMA, 2011). Esse trabalho está atualmente em desenvolvimento em Serranópolis e busca por meio da análise dos vestígios materiais e na paisagem local, romper com a perspectiva pós-colonial, para a interpretação dos grupos antigos que habitaram a área. A partir dos conceitos exposto nesse trabalho viso o fortalecimento do conhecimento científico sobre as ocupações mais antigas da região de Serranópolis, o qual possui grande potencial para contribuição e difusão do conhecimento arqueológico em diferentes escalas, tanto regional, quanto nacional. Ele também objetiva a ampliação da historiografia regional, pois a pesquisa expande o conhecimento acerca das variabilidades tecnológicas e culturais dos grupos originários que habitavam a região de Serranópolis durante a transiçãodo Pleistoceno para o Holoceno e do Holoceno Antigo.Espera-se que com essa pesquisa, seja possível identificar aspectos das memórias técnicas de tempos profundos e, com isso, distinguir, variabilidades tecnológicas, assim como, as continuidades e rupturas técnicas. Numa escala mais ampla, espera que os dados a serem produzidos colaborem para construção de quadros regionais acerca dos povoamentos ocorridos nesta região sudoeste do estado de Goiás. Assim como, contribuir com a preservação do patrimônio material e imaterial, e com o desenvolvimento sociocultural. Logo, é necessário a mudança no modo como observamos os grupos originários, deixando de lado a visão baseada no colonialismo europeu, onde as culturas antigas sul-americanas eram/são marginalizas. A continuidade da produção historiográfica baseada no viés colonialista leva os pesquisadores realizarem interpretações epistêmicas uniformizantes, onde os grupos do passado são tratados sob estruturas eurocêntricas onde apenas o enunciador e enunciatário, são considerados e, sem dar espaço para que o enunciado (HABBER, 2016).Com a arqueologia, as histórias dos grupos humanos do passado, podem ser revividas por meio de seus vestígios e marcas na paisagem, onde apesar dos indivíduos não estarem presentes, a sua passagem e seus objetos do cotidiano ou do universo simbólico, continuam vivos e com potenciais interpretativos para adensara história cultura do Brasil. a necessidade da mudança no modo como observamos os grupos originários, deixando de lado a visão baseada no colonialismo europeu, onde as culturas antigas sul-americanas eram/são marginalizas. Com a arqueologia, as histórias dos grupos humanos do passado, podem ser revividas por meio de seus vestígios e marcas na paisagem, onde apesar dos indivíduos não estarem presentes, a sua passagem e seus objetos do cotidiano ou do universo simbólico, continuam vivos e com potenciais interpretativos para adensar a história cultural do Brasil.